segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Cinema do Mundo

Eis mais 5 filmes imperdíveis que exploram a complexidade humana, provenientes de várias partes do mundo (mas não de Hollywood...):


En Man Som Heter Ove (Um Homem Chamado Ove), de Hannes Holm – Suécia (2015)

Este filme cómico e simultaneamente triste é baseado na obra de Fredrik Backman e foi uma agradável surpresa. Ove, um velho rezingão que nunca dá o braço a torcer e que tem que ter sempre a última palavra, parece ser o homem mais rabugento e amargurado do mundo, especialmente depois da perda da esposa, que ele adorava e que conheceu quando ela lia “O Mestre e a Margarida” de Bulgakov, numa viagem de comboio, e depois de ser despedido. Sem qualquer objectivo de vida planeia juntar-se à mulher mas vê-se obrigado a adiar o seu fim para ajudar a resolver, muito contrariado, uma série de situações provocadas pela vizinhança. No final acaba por ser acarinhado pelo grupo improvável de personagens que vai reunindo à sua volta (contrariado, claro) e por isso esta história fala-nos de amizades inesperadas e do impacto profundo que podemos ter na vida dos outros. Não aconselhado a quem não possuir um Saab! (Ah e se possuir um Audi é favor não esquecer que tem 5 zeros: 4 à frente e um ao volante…).




Toni Erdmann, de Maren Ade – Roménia, Áustria, Alemanha, Suíça (2016)

Filme dramático com tons de comédia, sobre o sentido da vida, com uma história a centrar-se na relação entre um pai sexagenário e uma filha (Sandra Hüller com uma brilhante interpretação), ele professor de música e ela uma empresária a trabalhar numa multinacional em Bucareste. Após a morte do seu cão, o pai, Winfried, decide deslocar-se à Roménia mas o primeiro contacto com a filha foi desastroso. Assim decide inventar um estranho alter ego - Toni Erdmann - numa tentativa de se aproximar da filha e reatar laços familiares, acabando por provocar um confronto geracional ao lhe tentar demonstrar os verdadeiros valores da vida. Ao longo do filme, que ultrapassa as duas horas e meia (mas ouve-se “Greatest Love Of All” de Whitney Houston e assiste-se a uma naked party!) também é feito um retrato satírico da sociedade capitalista, cada vez menos humanista e mais desrespeitadora da identidade individual. O que é a felicidade?




Forushande (O Vendedor), de Asghar Farhadi – Irão, França (2016)

Um casal de actores (Ranaa e Emad) que são protagonistas de uma produção local da emblemática peça "A Morte de um Caixeiro Viajante", escrita por Arthur Miller em 1949 e premiada com o prémio Pulitzer, vê a sua vida íntima ser perturbada quando se mudam para uma casa que terá pertencido a uma prostituta. A história vai-se desenrolando lentamente no ambiente claustrofóbico de um bairro de Teerão e ganha intensidade dramática gradualmente, culminando numa situação de enorme tensão, onde o dilema vingança / perdão tem de ser enfrentado, isto após o membro feminino ter sido vítima de uma violação por parte de um estranho. Shahab Hosseini é soberbo a desempenhar o marido no ajuste de contas com o criminoso: alguém focado, assertivo, calmo, sem deixar escapatória ao outro que gere muito bem a sua surpresa, indignação e horror. A vingança é um prato que se serve frio e sem gritos, com um auto-controlo magistral. Adorei aquela tensão final, feita de muita inteligência emocional, quando os personagens são confrontados com escolhas difíceis, em que as mais profundas convicções são postas à prova. O jovem casal "envelheceu" com o perdão. A vida fez justiça.




Tanna, de Martin Butler e Bentley Dean – Austrália (2015)

Este filme foi gravado na ilha de Tanna, em Vanuatu, um pequeno país insular da Oceania e os seus actores são todos habitantes nativos da ilha sem qualquer experiência anterior e falam no filme a linguagem local, o idioma Nauvhal. A história é baseada num acontecimento real: o amor proibido entre Wawa e Dain (pertencentes à tribo Yakel) na década de 80. A narrativa desenvolve-se sob o ponto de vista de Selin, a irmã mais nova de Wawa, uma criança encantadora. Historicamente, na luta pela sobrevivência, a tribo Yakel travou lutas sangrentas com outra tribo, a Imedin e, na iminência de um novo conflito, Wawa, é prometida como noiva ao filho do líder da tribo Imedin para que houvesse paz. O problema é que ela está apaixonada por Dain, neto do líder da sua tribo (aqui é impossível não nos recordarmos de Romeu e Julieta!). Desesperados, os jovens apaixonados têm de decidir entre fugir e ser felizes juntos ou zelar pelo futuro da sua tribo. Esta escolha pareceu-me demasiado previsível…




I, Daniel Blake, de Ken Loach – Inglaterra, França, Bélgica (2016)

Este filme obriga-nos a reflectir sobre o mundo em que vivemos, que permitiu a ascensão de um modelo socialmente imoral e canibalizador da dignidade humana e a existência de um Estado que, indolentemente, se arrasta pela sua indiferença, ineficácia e desumanização. Daniel Blake (Dave Johns ) é um viúvo solitário sem filhos pertencente à classe operária de Newcastle. Tem 59 anos, mas ainda está completamente apto para trabalhar. Infelizmente para ele, logo após a morte da esposa, sofreu um ataque cardíaco que o impede de retomar o trabalho. Para usufruir de benefícios sociais tem de se dirigir ao equivalente inglês da nossa Segurança Social e mendigar a pensão de invalidez a que tem direito. Só que tudo funciona através de call-centers e de formulários online, uma espécie de processo Kafkiano da burocracia. E Daniel nunca tocou num computador… Pior, se não responder da forma que os seus interlocutores estão à espera, penalizam-no retirando parte do subsídio. Ninguém o ajuda, o tempo vai passando e ele desespera… Numa das estações desse calvário, Daniel apercebe-se duma família igualmente em dificuldades. Uma mulher com cerca de trinta anos, com dois filhos, não tem dinheiro nem condições para viver. A partir daquele momento, o carpinteiro desdobra-se. Por um lado, continua o seu martírio junto da Segurança Social, por outro, dedica-se a ajudar os membros desta família, reparando a casa onde sobrevivem, comprando-lhes alguma comida, acompanhando a mãe às filas de beneficência alimentar. Fá-lo sem outro interesse que não seja o de ajudar. Mas o desespero dela e a falta de paciência dele acabam por se impor de forma dramática… Em última análise este filme, que deveria ser obrigatório para qualquer político ou aspirante a político, acaba por explicar o Brexit, pois os problemas retratados oferecem uma justificação para que a população mais idosa do Reino Unido tenha tido um peso fundamental na escolha pela saída da União Europeia.

sábado, 26 de agosto de 2017

Vilar de Mouros, 24 de Agosto de 2017


Jesus & Mary Chain, The Mission, Primal Scream e Young Gods permitiram recuperar algumas das minhas melhores memórias musicais das décadas de 1980 e 1990. Bandas que marcaram uma era e uma geração, prolongando o estatuto de referência ao longo de mais de 30 anos. Apesar dos rostos mais enrugados e dos cabelos mais grisalhos dos intérpretes, há músicas que, mesmo tocadas mil e uma vezes, durante longos, longos anos, continuam a soar a novo.

Esta viagem no tempo começou com os The Veils, a quem foi conferida a missão de começar a aquecer o ambiente. O sol ainda não se tinha posto por completo e durante cerca de 50 minutos ouviram-se os melhores temas desta simpática banda londrina incluindo o maior sucesso da banda, “The Leavers Dance”, do seu álbum de estreia lançado em 2004, “The Runaway Found”.

De seguida, os suiços The Young Gods, liderados pelo extravagante Franz Treichler, entraram no seu túnel de rugosidade e aceleração e criaram uma onda sonora explosiva, com temas como “Skinflowers” e “Kissing The Sun”, afirmando todas as qualidades do seu projecto de rock industrial e avant-garde.



A paz regressou de seguida com as baladas dos ingleses The Mission, membros destacados do rock gótico, com um público já trajado a rigor. O vocalista Wayne Hussey, por viver em S. Paulo há vários anos, mostrou dominar a língua portuguesa e ter abandonado os tempos de negrume e introspecção (até ofereceu rosas ao público!). Proporcionaram um excelente concerto num formato “best of” onde não faltaram os temas “Severina”, “Wasteland”, “Deliverance”, “Butterfly On A Wheel”, “Tower Of Strength” e “Like a Child Again”.

Igualmente menos sorumbáticos e muitíssimo mais festivaleiros, com um espírito quase juvenil, os The Jesus & Mary Chain proporcionaram um episódio de nostalgia pura durante cerca de 90 minutos, incluindo “April Skies”, “Head On”, “Some Candy Talking” e “Happy When It Rains”.


E como foi tão bom (re)ver Bobby Gillespie a acompanhar, à bateria, os irmãos Reid na interpretação das três derradeiras músicas (“Just Like Honey”, “The Living” e “Never Understand”) de um concerto que fechou ao som das melhores e imortais canções do ainda tão jovial álbum “Psycho Candy” dado a conhecer em 1985.

Bobby Gillespie, liderou os Primal Scream num concerto propositadamente desenhado para deixar a multidão em êxtase, numa visita guiada aos seus melhores álbuns (só de "Screamadelica" de 1991 ouviram-se, por exemplo, “Come Together”, “Loaded” e “Moving On Up”). Que noite memorável (e com direito de antena na SIC!).

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Passadiços do Paiva (Arouca)

Finalmente tive oportunidade de caminhar pelos Passadiços do Paiva, no concelho de Arouca, distrito de Aveiro. Localizam-se na margem esquerda do Rio Paiva, são 8 km que proporcionam um passeio "intocado", rodeado de paisagens de beleza ímpar, num autêntico santuário natural, junto a descidas de águas bravas, cristais de quartzo e espécies em extinção na Europa. O percurso estende-se entre as praias fluviais do Areinho e de Espiunca, encontrando-se, entre as duas, a praia do Vau. Uma viagem pela biologia, geologia e arqueologia que ficará, com certeza, no coração, na alma e na mente de qualquer apaixonado pela natureza. Excelente!











(Fotos: Sony Cyber-Shot DSC-P200)