quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Blood Red Shoes (Festival Manta 2010)


Os Blood Red Shoes vieram a Guimarães apresentar o seu mais recente álbum Fire Like This. Durante cerca de 75 minutos, ouviu-se rock na sua forma mais pura e criativa, com destaque para Don´t Ask e Colours Fade. As incursões pelo disco de estreia Box Of Secrets animaram o pouco mas animado público presente essencialmente em I Wish I Was Someone Better e It’s Getting Boring By The Sea. No palco, a dicotomia entre os dois elementos da banda, Steve Ansell e Laura-Mary Carter, foi assaz evidente com o elemento masculino muito mais seguro, enérgico e expressivo.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Kiran Desai – A Herança do Vazio




Antes de tudo, este livro é um brilhante testemunho da História da India no século XX, nascida de um passado brilhante mas vítima da opressão e exploração europeia. A Índia foi sucessivamente delapidada por Impérios europeus: primeiro os portugueses, depois os franceses e holandeses, finalmente os Ingleses, os senhores da Civilização e da opressão. Mais uma vez, o tema tantas vezes debatido e sempre tão actual: o choque de culturas. 

A acção decorre na Índia pós-colonial onde ainda se debate a contradição entre o paradigma civilizacional inglês e a prevalência de uma cultura ancestral identificada com as raízes religiosas e mentais mas que, ao mesmo tempo, envolve um quadro socio-económico arcaico. A pobreza está por todo o lado, justificando um misto de ódio e admiração pelos ingleses: ódio por parte daqueles que lhe atribuem a causa de todas as desgraças, admiração por parte daqueles que se encontram revoltados perante o conservadorismo da sociedade tradicional indiana. 

Trata-se da relação colonizador/colonizado por detrás da luta entre a tradição e uma modernidade tão atractiva como decepcionante. Mas há algo mais que isso: o conflito entre a pobreza e a riqueza, o dilema entre a tradição e a modernidade, o pôr em causa dessa mesma modernidade; a dúvida entre o aceite e o imposto. Por outro lado, o conflito político; o dilema daqueles que serviram um senhor que se revelou opressor. E a América, sempre a América como pano de fundo de uma esperança apenas aparente. A revolta perante um mundo de desilusão; a vida destruída entre conflitos que se impõem de um exterior vasto e devorador: os ingleses mas também a fabulosa América que inebria e corrói. A liberdade conquistada e o choque brutal com um país onde a liberdade, frágil construção humana, deixa germinar outras guerras. As minorias. Os nepaleses e o desejo de libertação. A violência no reino da tradição. 

Este é um livro sobre a solidão. Sobre almas que pendem sob os Himalaias, dependuradas num destino fabricado noutras paragens, por outras gentes. A civilização, admirada nos odiados ingleses avassala este mundo de personagens humildes e pobres. Sim, porque aqui, nesta Índia à procura de identidade, nem os ricos são ricos: todos sofrem, mesmo que de solidão. Fica a escrita brilhante tirada das profundezas da alma. Uma escrita sentida, cuidada e muito pessoal.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Editors, Ben Harper e dEUS (Festival Marés Vivas 2010)



Mais de 25 000 pessoas presenciaram o regresso dos dEUS a Portugal. Durante cerca de uma hora apresentaram temas dos dois primeiros álbuns (Worst Case Scenario e Ideal Crash), com especial destaque para Instant Street e Little Arithmetics, revisitando também os mais recentes Pocket Revolution e Vantage Point.

De seguida, aquela que será a banda actual mais influenciada pelos Joy Division e que a maioria das pessoas parecia esperar, os Editors, entrou em Palco. Como seria de esperar, o destaque foi para In This Light And On This Evening. Devido a problemas técnicos, Tom Smith, visivelmente irritado com a situação, abandona o palco no início do tema Smokers Outside The Hospital Doors. Toda a banda o acompanha e durante cerca de 15 minutos o público não percebe o que se passa. Quando regressam, tocam apenas mais dois temas e o sentimento de desilusão é bem patente em muitos espectadores, apesar do recinto estar completamente cheio.

Finalmente, o senhor Ben Harper e a sua mais recente banda Relentless7 surgem e a noite volta a animar-se. Empenho e profissionalismo não faltaram, com o rock e guitarras poderosas de White Lies For Dark Times, apesar da inicial Diamonds On The Inside e as incursões por territórios alheios (ouviu-se Billie Jean de Michael Jackson, pelo meio do tema Lay There And Hate Me e mais tarde também Heartbreaker dos Led Zeppelin).

domingo, 1 de agosto de 2010

Sonic Youth (Coliseu do Porto)


Os nova-iorquinos Sonic Youth, autêntica instituição do rock, entraram em palco poucos minutos após as 22 horas e durante cerca de 90 minutos apresentaram essencialmente o seu mais recente álbum, The Eternal (tocaram onze das doze faixas do disco, incluindo a belíssima Massage The History). Apesar do recinto não estar esgotado, não foi difícil a banda conquistar o público com os habituais feedback e rock avassaladores. Energia, emoção e entrega não faltaram aos cinco elementos da banda, apesar dos quase 30 trinta anos de carreira e mais de duas dezenas de discos.

Quem preferia revisitar a carreira da banda e ceder a alguma nostalgia, terá ficado decepcionado apesar do concerto terminar com temas de álbuns da década de oitenta: The Sprawl, ‘Cross The Breeze, Candle e Death Valley 69. No final, e sob fortes aplausos, Thurston Moore junta-se à multidão em êxtase na frente do palco e grava o momento a partir do seu telemóvel. Inesquecível, apesar de ter sabido a pouco...