quinta-feira, 25 de outubro de 2007

J. M. Coetzee - No Coração Desta Terra

 



Será que, afinal, eu não sou prisioneira da casa solitária e do deserto de pedra mas sim deste meu monólogo empedernido?” Magda é uma mulher só. Todo o livro é o seu monólogo da solidão. O pai casou com uma mulher jovem; a mãe morrera quando ela era criança. Hendrik, o criado que irá ser também um dos seus algozes, casou com uma mulher jovem, talvez ainda criança, que comprara ao pai por 5 notas e 5 cabras.

Neste livro pode sentir-se todo o desencanto de Coetzee para com o seu próprio país; todos, tanto os descendentes de colonos como os negros, dependem da terra, mas o trabalho e a vida são sempre solitários.

A escrita de Coetzee é de uma força brutal. A narradora, Magda, conta-nos os seus pensamentos de uma forma muito dura, violenta mesmo. Ela odeia-se, odeia tudo, odeia todos. É uma mulher feia e abandonada. Sonha matar o pai e a madrasta com requintes de malvadez; talvez seja o ódio que a faz viver.

Só a jovem mulher de Hendrik, Anna, trata a protagonista pelo nome. Afinal de contas, as mulheres são companheiras na desgraça. É também por Anna que Magda sente alguma ternura; o único resquício de amor que sentirá em toda a vida.

O sexo surge na narrativa como uma arma de submissão ao poder masculino; nada mais do que submissão e poder. Lágrimas e sofrimento. “Será que isto faz de mim uma mulher?”, pergunta Magda depois de ser violada.

Este livro foi escrito em 1977. Há 30 anos. No entanto, demonstra a mesma qualidade literária dos seus livros mais recentes, especialmente "Desgraça", publicado em 1999. Este é um dos aspectos que define um escritor genial: ele não precisa de experiência para atingir a genialidade.

E já neste seu primeiro sucesso literário estão patentes os traços fundamentais da sua obra: a solidão, a pobreza e o desencanto pelos dramas humanos do seu país, a África do Sul.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco (Agosto, 2007)


(Foto: Sony Cyber-Shot DSC-P200)

terça-feira, 16 de outubro de 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

domingo, 14 de outubro de 2007

Control

Estou ansioso pela chegada do dia 15 de Novembro. É nesse dia a estreia do filme Control, um bio-pic sobre o mítico vocalista dos Joy Division, Ian Curtis e a sua vida angustiada, que atingiu o ponto culminante com o suicídio por enforcamento. Aliciantes do filme: pelas fotos que já vi, o actor principal Sam Riley é extremamente parecido com Ian Curtis; a crítica internacional não se fartou de o aplaudir (o que pode até nem ser bom indicador) e existem novas versões de alguns temas que prometem (por exemplo, de David Bowie, Iggy Pop e The Killers).

Os Joy Division foram “apenas” a banda que me fizeram despertar para o mundo da música. Foi no início dos anos 80, que os álbuns Closer e Unknown Pleasures, foram quase os únicos a rodar no gira-discos e no gravador de cassetes. Anteriormente, e por influência do meu irmão ouvia essencialmente rock sinfónico dos anos 70.

Mesmo actualmente quando ouço temas como Atmosphere, She’s Lost Control e Love Will Tear Us Apart (a melhor canção alguma vez feita) apesar de traduzirem um abatimento profundo de tristeza, nunca me deixam indiferente. Para combater a nostalgia, uma alternativa é ouvir os nova-iorquinos Interpol, principalmente o seu primeiro disco de 2002, Turn On The Bright Lights. Para mim são os “novos” Joy Division, tal é a semelhança no som e imagem. Apenas parecem diferenciar-se na saúde e estabilidade mental do vocalista.

Este estado de impaciência é semelhante aquando da estreia do filme-documentário 24 Hours Party People, de Michael Winterbottom, no ano 2000, que recorda os Joy Division mas também aborda toda a cena de Manchester (New Order, Happy Mondays) e a ascensão e queda da Factory Records de Tony Wilson (que nos deixou no passado dia 10 de Agosto), dos anos 80 até meados de 90, com momentos visuais únicos. A banda sonora é imperdível.

sábado, 13 de outubro de 2007

Jostein Gaarder – O Mundo de Sofia




Sofia é a palavra grega para “sabedoria”; daí, penso eu, a escolha do nome da personagem principal. Este é, de facto, um livro sobre o saber. Mas é também um livro sobre a totalidade da alma humana; mais do que retalhos de emoções, pensamentos, ideias, perceções sensoriais, etc., nós somos um todo; uma totalidade.

Não é por acaso que este livro foi escolhido para o primeiro volume da épica coleção Grandes Narrativas, da Presença. E não é por acaso que estamos perante um campeão mundial de vendas.

A receita é muito simples: uma história da filosofia para principiantes, intercalada numa história de ficção. Mas não se iludam os adeptos do romance: a “estória” não é lá muito elaborada. Um filósofo escolhe uma miúda de 15 anos para lhe contar a história dos grandes filósofos e a parte ficcionada anda em torno desse misterioso contacto. O certo é que, na minha opinião, o livro vale muito mais pela parte filosófica do que pela ficção. Numa linguagem simples e até atrativa são percorridos os grandes momentos da filosofia, desde as explicações mitológicas do mundo pré-clássico até às grandes correntes do século XX como o existencialismo e o marxismo.

O facto de a componente ficcional não ser especialmente elaborada não impede que cumpra em pleno a sua principal função: a de mostrar que para lá das querelas históricas entre empiristas e racionalistas, entre existencialistas e idealistas, entre platónicos e aristotélicos, há uma componente na alma humana que nunca se pode negligenciar: a capacidade de fantasiar. Podemos ser inteligentes, sensíveis, emocionais ou idealistas; mas temos sempre a imaginação e a capacidade de sonhar; é essa, a meu ver, a grande lição de Sofia.

Em conclusão, trata-se de uma obra que todos os que gostam de livros devem ler; e guardar bem perto para consulta quando a dúvida surgir sobre Hume, Espinosa, Platão, Marx, Sartre ou qualquer outro grande nome da filosofia.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Aprazimento


Hoje, e ao fim de diversas tentativas, finalmente coloquei em ordem a minha colecção de discos. É uma tarefa minuciosa e demorada, mas bastante aprazível. Retirar todos os CD do armário, verificar e ordenar alfabeticamente e colocá-los novamente no seu lugar. Desta vez decidi empreender outra tarefa: elaborar uma lista com os meus cem discos preferidos, aqueles que mais me influenciaram, desde a adolescência até à actualidade. O resultado está aqui ao lado.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Oh não! Mais um Luís Filipe…

Desde o passado fim-de-semana que vamos ter que conviver diariamente com mais um Luís Filipe. Desta vez Menezes. Já tínhamos o Vieira e o Scolari. Qual ganhará o título de maior néscio ?

O Vieira, o homem da “equipa-maravilha”, está integrado numa instituição cujos líderes mais recentes (um advogado e um empresário) servirão para utilizar em case-studies de muitos mestrados e doutoramentos em liderança. Recordo-me de algumas das suas frases mais conhecidas: “Vamos arrasar em Portugal e pela Europa fora”; “O objectivo é termos 500 mil sócios daqui a três anos” ou “Muito em breve seremos demolidores”. O resultado está bem à vista. Por mim, espero que continue a reinar por muito mais tempo…

Quanto ao Scolari, já devia estar a insultar jornalistas e qualquer pessoa que o conteste noutro país. E não é só pela “agressão” ao jogador sérvio, pelas suas ridículas explicações ou por deslustrar o nosso país. A principal razão é a qualidade do futebol que a nossa selecção praticou nos dois últimos jogos em casa: débil, despretensioso e sem garra. Será que não há ninguém em Portugal capaz de expurgar a imundície dos responsáveis pelo nosso futebol?

Resta o Menezes. E só recordo as palavras do Soares que resumem tudo: “Foi uma desgraça”. Quem não deve parar de motejar é o Engenheiro, para quem o tumulto vivido dentro dos laranjinhas veio na hora certa e a vitória nas próximas legislativas é certa. Pessoalmente nunca acreditei na ressurreição de defuntos como o Santana, Sarmento ou o Arnaut, nem num contra-ataque sulista, elitista e liberal. Confesso que também não dava muito crédito ao outro candidato à liderança do PSD. Onde andam os outros eternos candidatos a líderes do partido? Esperam por uma hecatombe em 2009? Acho que é um pouco tarde demais e não se devia perder tempo com líderes a prazo, especialmente tendo em conta a celeridade de danos insupríveis causados à nossa sociedade pelo actual governo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O meu último repouso


No passado mês de Agosto voltei a visitar um país que adoro: o Brasil. A combinação do clima, língua e ambiente natural bem como a boa disposição dos habitantes, transformam estas viagens em experiências extremamente encantadoras. O pior é passar oito horas seguidas dentro de um avião, ao lado de um casal com um recém-nascido aos berros durante toda a viagem! É difícil imaginar semelhante suplício…

A primeira semana passada no Recife, mostrou uma cidade bastante populosa, com um centro histórico muito concorrido, com particular destaque para a zona de Olinda. No entanto, os indicadores das grandes cidades brasileiras estão bem visíveis: a penúria da população, um quase permanente odor ascoroso e a pouca segurança para quem calcorreia a cidade.

Por sua vez, na segunda semana, estive num cenário bastante distinto, Porto de Galinhas. Apesar de distar pouco mais de 70 km da cidade do Recife, parece tratar-se de outro país. Mais elitista e quase dedicado ao turismo, onde o próprio nível de vida é mais elevado, é um local muito mais calmo, com as praias mais bonitas que alguma vez vi e que permite excelentes passeios de buggy. A paisagem natural é extraordinária.
(Foto: Sony Cyber-Shot DSC-P200)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007