terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Leituras do Mês




- Olivier RolinBaku - Últimos Dias
- Fabio VoloO Dia Que Faltava
- Clara SánchezOs Monstros Também Amam
- Robert GravesEu, Cláudio

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

As Minhas Melhores Leituras de 2023




1. Douglas Stuart – Shuggie Bain
2. Arturo Pérez-Reverte – O Italiano
3. Eduardo Mendoza – A Cidade Dos Prodígios
4. Paul Auster – 4 3 2 1
5. Geoff Dyer – Os Últimos Dias de Roger Federer e Outros Finais
6. Shusaku Endo – Silêncio
7. Virginie Despentes – Vernon Subutex
8. Jorge Carrión – Livrarias
9. Herberto Helder – Os Passos Em Volta
10. David Galgut – A Promessa
11. Flannery O’Connor – Um Bom Homem É Difícil de Encontrar
12. Abdulrazak Gurnah – O Desertor

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Reuniões de Profes

Ata de um Conselho de Turma (de uma Escola Secundária da Terra Média):


----- Relativamente ao aproveitamento, o Conselho de Turma caracterizou-o como hilariante, uma vez que os níveis atribuídos pouco têm a ver com o desempenho dos alunos, mas sim com outros fatores, nomeadamente: o desejo de nunca mais os ver na sala de aula; a necessidade de cumprir as anedóticas metas de sucesso, de forma a evitar o paleio justificativo no relatório de avaliação de desempenho e demais documentação; a vontade de evitar recursos por seis ou sete encarregados de educação, previamente referenciados pelo conselho de turma como "carraças parentais obcecadas com a entrada dos descendentes no curso de Economia da FEP" [soou uma gargalhada quase geral].

----- A docente de Português confessou que devia ter estudado História para entender os hieróglifos dos testes e também que tinha ganas de imitar Espanca, só para não ter que voltar a ler tantos disparates e facadas na bela Língua Lusitana. Lembrou-se da discrepância que certamente existirá entre a avaliação interna e as notas dos exames nacionais, e por isso considerou não haver qualquer problema se as classificações se mantiverem camufladas na “bondade avaliativa” [soaram exclamações de compreensão e comiseração em quatro docentes]. 

----- O docente de Geografia declarou que não abdicava dos seus princípios, pelo que tinha atribuído nível quinze a um aluno que nunca compareceu [silêncio constrangedor]. O diretor de turma, bem-humorado, sugeriu que se alterasse para “dezasseis”, o que mereceu uma ovação geral, quanto mais não fosse para não terem que aturar os chiliques pedagógicos do Gabinete de Psicologia. 

----- A docente de Inglês esclareceu que mais de metade da turma não distingue ainda “yes” de “no”, o que compreende pois nas suas aulas só falam português, e por isso é-lhe impossível dar menos de dezassete valores a toda a gente pois eles são todos uns amores [nesse momento, fez-se silêncio temeroso].

----- O docente de Educação Física acrescentou que também não tem vontadinha nenhuma de aturar os comentários infelizes de vários quadrantes sobre a importância das suas áreas curriculares, pelo que o nível mínimo que atribuiu foi dezassete, que serviu para penalizar 4 alunos por nunca terem levado sapatilhas para a sua aula.

----- A docente de Matemática não disse mas com certeza pensou nas “melgas inúteis” que são os pais e demais parentes que acompanham vários alunos na realização dos TPC e que os instruem no sentido de pôr em causa tudo o que acontece nas suas aulas, embora a maioria nem o nono ano devia ter concluído [interjeições de concordância e olhares suspeitos de quatro docentes]. 

----- A docente de Filosofia explicou ao conselho que, no âmbito da interdisciplinaridade, tinha decidido uniformizar os critérios de avaliação, a saber: nível dezoito para quem tivesse pulsação, nível dezanove para quem também respirasse sozinho e nível vinte para quem emitisse cumulativamente sons [olhares de compaixão]. 

----- Para o docente de Economia, em resposta ao Representante dos Encarregados de Educação que considerou as notas da disciplina muito preocupantes (pois no ano anterior os alunos não falaram de Economia nas respetivas aulas mas pelo menos tiveram média de 16 valores), a inação de uns, a fraca prestação de outros, o desinteresse e a falta de ambição daqueles, enfim, aparentemente barricados na mediocridade escolar, acabam por ter um efeito de desvitalização de todos, vindo sucessivamente a induzir uma mediania académica, mas que tudo poderia ser compensado desde que a estrutura do próximo teste de avaliação fosse ESTA e se inscrevessem na Juventude Socialista. 

------ O Diretor de Turma destacou o facto de em mais de trinta anos nunca ter encontrado uma turma de alunos tão mimados, cultores da ignorância, incapazes de cumprir com as regras mínimas de uma sala de aula, que encaram o copianço nos testes como uma atividade perfeitamente normal e os trabalhos práticos como uma forma de praticar as funções “copy” e “paste” do Word e, não satisfeitos com a exuberância do seu tónus intelectivo, boçalmente ajuizarem sobre a condução do processo de ensino-aprendizagem. Por tudo isto, na sua disciplina decidiu atribuir como nota mais baixa dezassete valores [múltiplas interjeições de concordância]. 

----- E nada mais havendo a tratar...

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

domingo, 5 de novembro de 2023

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Leituras do Mês





Tomás Eloy Martínez – O Cantor De Tango
Céline – Morte A Crédito
- Juan Marsé – Essa Puta Tão Distinta
Flannery O’Connor – Um Bom Homem É Difícil de Encontrar

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Sons de Outono


1. Sigur RósFall
2. Devendra BanhardtTwin
3. London Grammar & SebastiAnDancing By Night
4. Silvert HøyemThe Rust
5. MetricDays of Oblivion
6. Idles Dancer
7. U2Atomic City
8. Debby Friday (Ft. Uñas)I Got It
9. Yves TumorEcholalia
10. Måneskin (Ft. Tom Morello)Gossip
11. JP Saxe (Ft. Julia Michaels)If The World Was Ending
12. Future IslandsDeep In The Night
13. Depeche Mode My Favourite Stranger
14. Passenger (Ft. Gabrielle Aplin)Circles
15. Maximilian HeckerNeverheart
16. Harry StylesFine Line
17. Sharon Van Etten When I Die
18. DeerhoofMidnight, The Stars And You
19. TomaraAvalanche
20. CarminhoLevo O Meu Barco No Mar


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

domingo, 1 de outubro de 2023

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Vida de CEO


Diz o CEO gordo para o CEO magrinho:

- Como é que te consegues manter tão magro?

- Pá, quando chego a casa do escritório, não vejo nada de interessante no frigorífico, e vou para a cama. E tu, como é que ficaste assim gordo?

- Olha, quando chego a casa do escritório não vejo nada de interessante na cama, vou ter com o frigorífico…

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Geoff Dyer - Os Últimos Dias de Roger Federer e Outros Finais




"Os Últimos Dias de Roger e Outros Finais" é um livro sobre o vasto catálogo dos tópicos preferidos de Dyer, que vão do rock à história militar, passando pelo ténis, jazz, drogas, cinema, pintura ou fotografia. Aqui, Geoff Dyer explora os últimos dias, as últimas obras ou as obras tardias de escritores, pintores, músicos, cineastas e estrelas do desporto que marcaram a nossa memória. Com charme, ironia e inteligência, revê o colapso de Friedrich Nietzsche em Turim, as reinvenções de antigas canções de Bob Dylan, a pintura de Turner com a sua abstração harmoniosa, a ressurreição tardia de Jean Rhys, as derradeiras melodias de John Coltrane, mas também os últimos quartetos de Beethoven, os poemas finais de Larkin, as últimas canções dos The Doors ou o último sopro criativo de Walter Scott, Joyce, Updike ou David Foster Wallace.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Sons de Verão


1. PJ HarveyA Child’s Question, August
2. BlurThe Narcissist
3. Slowdive Kisses
4. The Legendary Tigerman (Ft. Asia Argento)Good Girl
5. Everything But The Girl Run A Red Light
6. InterpolSomething Changed
7. Caroline PolachekWelcome To My Island
8. Bar ItaliaNurse!
9. Cigarettes After SexPistol
10. Lana Del Rey Did You Know That There’s A Tunner Under Ocean Blvd
11. Lightning CraftMy Way
12. Depeche ModeGhosts Again
13. Yeah Yeah YeahsBlacktop
14. The National Eucalyptus
15. The WaeveCan I Call You
16. Sparks The Girl Is Crying In Her Latte
17. Warpaint Love Is To Die
18. The Last InternationaleWanted Man
19. The Last Dinner PartyNothing Matters
20. FlipturnSad Disco
21. John Cale (Ft. Weyes Blood) Story Of Blood
22. Anohni And The Johnsons It Must Change
23. Girl In RedOctober Passed Me By
24. The Smile Bending Hectic
25. Boygenius The Film


quinta-feira, 6 de julho de 2023

Leituras do Mês

 



- Ivo Andric A Crónica De Travnik
- John SteinbeckO Inverno Do Nosso Descontentamento
- Toni MorrisonA Dádiva
- Rubem FonsecaA Grande Arte

domingo, 28 de maio de 2023

Centenário do CNE

 



O Altice Forum Braga foi o local das comemorações deste Centenário, com a realização de jogos no pavilhão, ao longo do dia 27 de maio e, à noite, com a celebração da Eucaristia e a Festa do Centenário, na zona exterior. 

Celebrar o passado mas, sobretudo, a olhar e a traçar o que vai ser o nosso novo século de vida – o nosso futuro.

São 100 anos de atividades, amizades, construções e acampamentos!

sábado, 27 de maio de 2023

Chemical Brothers (North Festival, Porto, 26 de Maio)

 



Durante mais de uma hora, o duo britânico Chemical Brothers assegurou o espetáculo da noite do primeiro dia do North Festival, protagonizando um espetáculo de luzes, projeção e som a que nos tem habituado. “Hey Boy Hey Girl”, de 1999, foi um dos pontos altos. O auge foram os temas já com décadas de existência, que levaram o público a levantar os braços e abanar a cabeça, oferecendo uma experiência sonora única e envolvente, combinando música eletrónica pulsante com visuais cuidados e impactantes. 

sábado, 20 de maio de 2023

Eduardo Mendoza – A Cidade Dos Prodígios


O enredo desta obra acompanha a cidade de Barcelona entre as duas Exposições Universais aí realizadas: de 1888 e 1929. O protagonista desta estória, Onofre Bouvila, é uma espécie de anti-herói que sobrevive e depois enriquece numa espécie de vida em “contramão”: a sua sorte é o azar dos outros. Toda a cidade de Barcelona acaba por ser vista também nessa perspetiva: uma cidade que enriqueceu com base na desgraça alheia, no sucesso de uma casta de patifes como Onofre Bouvila. A própria Grande Guerra ou a ditadura de Primo de Rivera são vistas em Barcelona como oportunidades de enriquecimento.

Ao longo do livro vamos assistindo também à afirmação do socialismo e do anarquismo como teorias da moda. Os malandrins de Barcelona, mais do que os operários e oprimidos, são o meio em que essas ideias ganham assento. Ao longo do livro vamos sorrindo com um sentido de humor alucinante: do sorriso discreto à gargalhada desabrida vão dois passos, num estilo original e muito fluido. Aliás, é incrível a capacidade de Mendoza para fazer “parêntesis” de duas ou três páginas sem que o leitor perca o fio à meada.

A análise do contexto histórico é excelente: dá-se conta da origem da moderna Barcelona a partir da exposição universal de 1888, num olhar irónico sobre o sucesso de toda a sorte de malandros e rufiões; eles podem ser o coração de uma cidade, mais do que os políticos.

O início do século XX é sempre uma época de eleição para qualquer escritor tais são as novidades; uma das mais espetaculares é o cinema, que Onofre ajudou a levar até Barcelona. Em 1923 dá-se o golpe fascista de Primo de Rivera; a ameaça do extremismo catalão foi uma das causas da instauração da ditadura; é a cidade condal no centro da contestação.

Esta faceta rebelde da Catalunha é o âmago da obra: “Nós, os pobres, só temos uma alternativa, dizia de si para si, a honestidade e a humilhação ou a maldade e o remorso. Isto era o que pensava o homem mais rico de Espanha” (página 292).

A Barcelona moderna surge com o genial Gaudi. No entanto, mesmo neste domínio, Mendoza não deixa de pintar a realidade com tons surreais, apresentando-nos o famoso arquiteto num estado de decadência e decrepitude.

Mas é a aviação que vem fornecer a vertigem dos novos tempos…

A exposição universal de 1929 era a oportunidade de afirmação de Primo de Rivera. Mas foi, pelo contrário, um sinal de falência do sistema capitalista, quatro meses depois do crash da bolsa de Nova Iorque.

A questão fundamental é esta: Vale a pena lutar pela glória? Vale a pena pagar preços tão altos? A questão é posta por Onofre mas podia ter sido posta pela cidade… implícita nesta estória está uma crítica mordaz ao individualismo burguês.

Ao individualismo, Mendoza contrapõe a cidade; um povo que lutou sempre contra a hegemonia da capital e fez da Catalunha um estado autónomo; não se trata da afirmação da cidade em termos económicos nem urbanísticos, mas da cidade como comunidade, com a sua identidade rebelde mas inquebrantável.

terça-feira, 2 de maio de 2023

Leituras do Mês




- Amos OzNão Chames Noite À Noite
- Nick CaveA Morte De Bunny Munro
- Neil JordanAmanhecer Com Monstro Marinho
- Eduardo MendozaA Cidade Dos Prodígios

domingo, 23 de abril de 2023

sábado, 25 de março de 2023

Owen Pallett / The Hidden Cameras (GNRation, 24 de Março)




Owen Pallett, antigo membro de The Hidden Cameras, juntou-se ao seu líder Joel Gibb em palco para celebrar o legado histórico que os canadianos deixaram na música pop contemporânea.

O espetáculo iniciou-se com Gibb a solo, todo vestido de branco, com guitarra e bateria e adereços, diz-nos, comprados à tarde numa loja chinesa de Braga, a tocar algumas das canções do disco “The Smell of Our Own”, que celebra agora 20 anos de existência (a primeira foi “Golden Streams” seguida por “A Miracle”, “Shame”, “Boys Of Melody” e “Ban Marriage”) e novas composições para o seu álbum previsto para 2024. Composições irreverentes e diversas influências, que vão desde o folk ao rock’n’roll.

O virtuoso do violino, compositor e produtor, Owen Pallett é um dos músicos mais aclamados no Canadá, com influências que vão desde o pop e rock à música eletrónica, sendo reconhecido pelo seu trabalho a solo e pelos arranjos de orquestra para alguns dos maiores músicos da atualidade. Em 2005 estreou-se a solo como Final Fantasy com o disco Has a Good Home, seguindo-se He Poos Clouds. O seu trabalho com os Arcade Fire, no disco The Suburbs (2011), foi distinguido com um “Grammy”. Esta noite aproveitou a ocasião para celebrar a reedição daqueles dois álbuns de estreia como Final Fantasy.

Á partida poderiam ser dois concertos distintos, mas não foi isso que aconteceu, pois por diversas ocasiões durante o espetáculo, atuaram em conjunto, misturando cumplicidade musical e uma amizade que vai resistindo ao tempo e à distância.



sexta-feira, 24 de março de 2023

Sons da Primavera


1. David BowieYou Feel So Lonely You Could Die
2. PJ Harvey Who By Fire
3. Son Lux, Mitski, David ByrneThis Is A Life
4. London GrammarLord It´s A Feeling
5. Belle and Sebastian I Don’t Know What You See In Me
6. Daughter Be On Your Way
7. Thus LoveCenterfield
8. Yeah Yeah YeahsWolf
9. Yves TumorGod Is A Circle
10. Dream WifeLeech
11. Nothing But ThievesWelcome To The DCC
12. CatbearI Choose Love
13. The 1975 I’m In Love With You
14. Emily Jane WhiteWashed Away
15. BeckOld Man
16. Måneskin The Loneliest
17. Miley CyrusFlowers
18. Trvstfall Sing Louder
19. BoygeniusNot Strong Enough
20. The RegrettesYou’re So F**cking Pretty


sexta-feira, 10 de março de 2023

Nina Nastasia (GNRation, 10 de Março)



"I f*****g love Portugal"

A autora de “A Dog’s Life” trouxe consigo o novíssimo Riderless Horse, sétimo álbum de carreira que assinala o fim de um silêncio discográfico de doze anos. Trata-se do primeiro disco desde a morte do marido Kennan Gudjonsson, com quem travou uma longa e abusiva relação, amorosa e profissional, documentando a dor e o luto através de doze transformadoras canções. Assim, neste disco, Nina Nastasia não celebra um momento feliz e estável da sua vida, apenas tenta recuperá-la, salvando-a do momento mais triste e doloroso da sua existência.

Riderless Horse é um despojado e arrepiante conjunto de canções que nos conta os diversos momentos da relação, dos mais sombrios aos mais esperançosos. Nas últimas palavras de Riderless Horse, diz-nos “I wanna live, I’m ready to live”, deixando-nos o coração aquecido de esperança. Há momentos em que dizemos que a arte salva, mas poucas as vezes isto foi tão evidente e tão profundamente emocionante.

Numa sala esgotada e sem direito a lamentos ou queixumes, a cantora folk norte-americana, uma talentosa cantora e compositora conhecida pela sua abordagem única e emocional na música, apresentou-se sozinha mas segura, criou uma atmosfera íntima e envolvente, e percorreu todos os seus sete discos com canções excelentes, destacando-se "This Is Love", "Nature" ou a arrepiante "The Two of Us". Pelo meio esqueceu-se de uma letra, que justificou com um "Brain Fart" e soltou um espontâneo "I f*****g love Portugal". O público compreendeu mostrando-se sempre recetivo e interessado e ainda participou em coro num "happy birthday", que a cantora registou no telemóvel e com destino a um tio nonagenário!

O espetáculo foi verdadeiramente especial e deixou uma marca indelével na minha memória.


quinta-feira, 9 de março de 2023

Burrocratização do ensino


Enquanto o país se entretém com a futura localização de um aeroporto que se tornou a imagem do desatino e da incapacidade estrutural de decidir em tempo útil, esquecem-se as más notícias que ensombram a escola pública. Concomitantemente, quem queira servir-se da pandemia para relativizar os resultados negativos do desempenho internacional dos nossos alunos, só pode ter em mente o eterno argumento do “coitadinho”.

Quando tudo gira em torno da mediocridade, em nome da qual ganhou raízes o maior monstro burocrático e legislativo de sempre, eis-nos perante o Leviatã que não suga apenas as energias dos melhores professores, mas também destrói a sua dignidade profissional. Com que objetivo? A encenação de um “céu de papel” que esconda a triste realidade da terra. Mas este ocultamento do “reino da estupidez”, para nosso bem, não é totalmente estanque. E os sinais do desastre educativo nacional estão à vista, de facto, não sendo já possível camuflá-los com o fogo de artifício dos recursos digitais e outros iluminismos da era da inteligência artificial.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Ice Merchants


Este ano, pela primeira vez, um filme de produção portuguesa foi candidato aos Oscars, mais precisamente o de melhor curta-metragem de animação.

Intitula-se “Ice Merchants” (“Negociantes de Gelo”), tem 14 minutos e foi realizado por João Gonzalez, cineasta do Porto.

O resumo é fácil de fazer: um homem e o seu filho vivem num pequeno chalé pendurado na parede de uma imponente montanha. Lá, fabricam gelo que vendem numa vila a alguma distância do sopé da elevação. Para servirem os clientes, voam literalmente ao seu encontro. 

Filme assente em pormenores, em pequenos gestos estranhos porque pouco habituais, pois nada sabemos do ofício de negociar gelo, começa por estranhar pelo absurdo de alguém que sobrevive vendendo gelo a quem vive perto de uma montanha coberta de neve...

Limitado nos tons cromáticos em que assenta, utilizados para diferenciar os dois centros da ação, mas também para simbolizar a união do pai e da mãe (ausente?, mas nem sempre...), “Ice Merchants” no minimalismo da sua conceção, na vertigem da sua narrativa com os mergulhos sem rede para o abismo, e no inesperado do seu tom, desconcerta pelo círculo vicioso, qual pescadinha de rabo na boca, que move e condiciona os mercadores.

Termina, de forma trágica, mais impactante dado o humor ligeiro que perpassa por todo ele e na cena final, com uma mensagem ecológica que alerta para a responsabilidade individual de cada um... porque – e quem assistir entenderá – para nós não haverá um paraquedas suplente nem uma almofada que nos ampare a queda.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Leituras do Mês



 
- David GalgutA Promessa
Giorgio Van StratenHistórias de Livros Perdidos
José Carlos BarrosAs Pessoas Invisíveis
Anna PolitkovskayaUm Diário Russo

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Chris Cleave – A Pequena Abelha

 



Abelhinha (que só no título do livro é nomeada como Pequena Abelha) é uma refugiada nigeriana em Londres; na Nigéria ela experimentou as piores humilhações e o maior sofrimento; mas na Inglaterra os tormentos foram outros; diferentes mas não menores. A burocracia, a rigidez dos costumes e, acima de tudo, o preconceito contra os estrangeiros fizeram da vida de Abelhinha em Inglaterra um novo tormento.

Sarah é uma inglesa de classe média com tudo o que uma cidadã desse estatuto costuma ter num país civilizado: filho, marido, amante e um emprego razoável. Mas nem por isso a sua vida é pacífica; quando não temos problemas de sobrevivência, podemos dar-nos ao luxo de arranjar problemas sentimentais. Para fugir a esses problemas, Sarah e o marido resolveram passar umas férias na Nigéria. Aí conheceram Abelhinha mas a vida do pacato casal britânico sofreria um golpe tão rude que nunca mais se conseguirá recompor.

Um certo humor, construído a partir da ingenuidade da alma africana, dá um pouco de leveza a esta estória, absolutamente triste. O elemento feminino, sofredor e sensível é claramente colocado em oposição ao masculino, egoísta e violento. Na Europa como em África, o homem procura impor o seu poder. Os ingleses, civilizados, apenas escondem a violência em subterfúgios, em aparências; o que em África se faz com catanas e espingardas, em Inglaterra faz-se com computadores e papéis.

Há neste livro ideais a aspetos simbólicos verdadeiramente geniais. Apenas alguns exemplos: no centro de detenção, Abelhinha reflete, perante as marcas de sofrimento que as suas colegas exibiam: “uma cicatriz não se forma naqueles que estão a morrer. Uma cicatriz significa «eu sobrevivi»”. Uma rapariga que acompanha Abelhinha nesse centro transporta um saco de plástico cheio de amarelo. Aos nossos olhos seria um saco vazio e inútil. Mas quem perdeu tudo transposta sempre algo. Nem que seja a esperança; a cor viva da esperança ou de uma réstia de alegria…

Um dia, Oscar Wilde afirmou que só a beleza pode salvar o mundo. Assim descontextualizada, esta frase torna-se vaga. Mas Abelhinha faz-nos compreender Wilde quando afirma: “ninguém gosta de ninguém mas todos gostam dos U2”. A música, a arte, a beleza, são raios de sol neste mundo a que chamam global mas onde as atrocidades persistem.

E o final do livro é outro raio de sol. A maldade persiste; a infelicidade não desaparece mas há as crianças; e com elas a esperança e a beleza nunca morrerão.

domingo, 15 de janeiro de 2023

Sobre a Inteligência Artificial (AI)


Começou por ser uma brincadeira de nerds, evoluiu para uma ferramenta engenhosa usada por alunos cábulas, derivou para uma atrativa solução empresarial e industrial, afirmou-se como fonte fidedigna de órgãos de Comunicação Social, passou a integrar a máquina de propaganda e desinformação de algumas tribos e, hoje, é encarada como uma séria ameaça ao curso da História, potenciando teorias que anteveem que o fim da espécie humana pode, afinal, não ter causas naturais, mas baseadas na programação informática. A Inteligência Artificial (IA) veio para ficar. Não acabará com o Mundo (esperamos), mas ajudará certamente a mudá-lo. Tentar travá-la apenas porque temos medo terá, provavelmente, o mesmo efeito inconsequente produzido há umas décadas quando nos assustámos com o advento da Internet.

Não conhecemos ainda em profundidade todas as virtualidades desta revolução (e muito menos todos os perigos), mas a melhor forma de enquadrar esta parcela imparável do futuro é recorrendo às leis. E essas ainda são os homens a desenhar.

A União Europeia começou a redigir o “AI Act” há quase dois anos para regular a tecnologia que explodiu após o lançamento do ChatGPT, o aplicativo de consumo com o crescimento mais rápido da História (atingiu os 100 milhões de usuários ativos mensais em poucas semanas).

Neste momento, os legisladores estão a aperfeiçoar o quadro legal, para estabelecer barreiras em função dos níveis de risco: de mínimo a limitado, de alto a inaceitável, abrangendo áreas que vão da vigilância biométrica à disseminação de informação falsa ou ao uso de linguagem discriminatória. O Parlamento Europeu está a fazê-lo de forma sensata, procurando um justo equilíbrio entre os direitos dos cidadãos, o progresso tecnológico e o crescimento económico.

Não censurando o desconhecido, mas preparando as válvulas de escape que melhorem a aculturação de uma realidade que é tudo menos artificial.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Shusaku Endo – Silêncio




Shusaku Endo, falecido em 1996 foi um dos mais conceituados escritores japoneses do século XX. Nesta obra, "Silêncio", aborda um tema polémico e profundo, que tem muito a ver com a nossa história: o trabalho dos missionários portugueses no Japão, nos séculos XVI e XVII. O livro narra a história do Padre Rodrigues, um jesuíta português que partiu para o país do sol nascente procurando um outro missionário, o padre Ferreira de quem se dizia ter apostatado, ou seja, renegado a fé cristã.

A época era de intolerância; enquanto em Portugal e noutros países cristãos se perseguiam e queimavam judeus nas fogueiras da Inquisição, no Japão eram os cristãos vítimas de perseguição impiedosa por parte das autoridades locais, que pretendiam manter o povo fiel ao Xintoísmo e ao Budismo vigentes.

Mais interessados no negócios do que no cristianismo, os japoneses começaram por aceitar benevolamente a presença portuguesa, tendo os jesuítas, liderados por S. Francisco Xavier, conseguido converter milhares de japoneses. Mas no século XVII tudo se modificaria, em parte pela influência que os holandeses e ingleses (protestantes e rivais dos portugueses) moveram junto das autoridades japonesas. Inicia-se então um período de intensa e cruel perseguição, em que os padres missionários e os fiéis eram punidos com castigos arrepiantes e submetidos a torturas inacreditáveis.

No entanto, a questão fundamental não radicava apenas na falta de tolerância. A questão fundamental que Endo coloca ao narrar a incrível história do Padre Rodrigues é a incapacidade que os seres humanos revelam para enquadrar as crenças num espaço cultural próprio, sem o qual elas se revelam inférteis. Como afirma um samurai japonês, o cristianismo era como uma árvore transplantada para um terreno infértil. Impor, mesmo que por benevolência, uma determinada crença é um ato institucional, mais do que de consciência. A Igreja como Instituição nunca conseguiu compreender devidamente este fenómeno: o conceito de BEM, por mais universal que possa ser, não é compatível com normas institucionais que se pretendem universalizar.

Nessa medida, a obra de Endo não perde atualidade nos nossos dias; vemos com frequência governos atuais a tentar impor o nosso conceito de bem, de democracia e de liberdade, sem ter em conta as realidades culturais diversas com que nos deparamos. E nós, no nosso quotidiano, quantas vezes não recorremos a argumentos como estes: “isto é bom para ti”, sem ter minimamente em conta a realidade do outro? Até que ponto o nosso conceito de “bem” ou de “bom” deixa de ser uma ideia subjetiva?

Enfim, um livro que foi para mim uma excelente surpresa, pela sensibilidade que revela sobre um assunto tão complexo e intemporal. O estilo, bastante claro e acessível, faz deste livro um verdadeiro manual de tolerância universal.



No filme que Martin Scorsese adaptou ao cinema, os padres são interpretados pelos atores americanos Andrew Garfield e Adam Driver. Os dois vão ao Japão para procurar um dos seus líderes, o padre Ferreira, interpretado por Liam Neeson, que segundo rumores teria abandonado a sua fé no Japão.

Trata-se de um filme inquietante e perturbador, fiel à história e sem pretensões tendenciosas onde Scorsese faz uma reflexão radical sobre as relações entre o humano e o sagrado.

domingo, 8 de janeiro de 2023

Tindersticks (Theatro Circo, 7 de Janeiro)





Noite de Inverno em Braga com muita chuva. Momento de comunhão entre artistas, público e palco, numa noite de música bonita. Stuart Staples, o vocalista, é quem marca o arranque das canções em palco. Musicalmente a banda não parece muito diferente da anterior ocasião em que vi a banda, no Coliseu do Porto, em 2003.

O alinhamento do concerto inicia-se com "Willow" (da banda sonora do filme High Life) e "A Night So Still" (do álbum de 2012, The Something Rain).


A sala esgotada respeita o silêncio que a música dos Tindersticks pede. Rejubila no final de cada tema. Alguns músicos vão trocando de posições no palco. A música mantém-se sedutora. A harmonia conjugada com a voz grave de Staples é hipnotizante. A gestualidade controlada, mas nervosa de Staples, em particular a forma quase infantil como os seus pés se movem, sem abandonar o lugar.

Zero palavras para além das palavras escritas nas letras destas músicas, e, porém, a sensação de estar próximo do palco, dos membros da banda, é esmagadora.

Os Tindersticks continuam deliciosamente imemoriais, sem ligar a modas ou pressões externas, nem precisam de se dedicar a espetáculos de recordar é viver. Bastam serem eles próprios.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Leituras do Mês




- Chris CleavePequena Abelha
- Shusaku EndoSilêncio
- Zoran ŽivkovićO Grande Manuscrito
- Yrsa SigurdardóttirCinza e Poeira

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Os Melhores Discos do Ano 2022


“Tenho o mais simples dos gostos. Satisfaço-me com o melhor”, disse um dia Oscar Wilde. E dirão todos os melómanos de gosto também ele simples. Por isso regresso aqui à música que mais ouvi nos últimos doze meses e organizá-la hierarquicamente, ao meu bel-prazer, é inquestionavelmente uma prática hedonista (e claro está, altamente subjetiva).

O disco mais ouvido foi claramente do duo britânico Wet Leg, composto Rhian Teasdale e Hester Chambers e oriundo da ilha de Wight, que inclui canções como "Wet Dream", "Ur Mum", "Angelica", "Being In Love" ou a perfeita “Chaise Longue”, uma das mais trepidantes canções que o rock nos ofereceu nos últimos anos. Em tom infinitamente “blasé”, o duo canta com languidez sobre o malogro das notas escolares, a vontade escapista e a irreprimível vontade de se estender horas a fio numa “chaise longue”, o objeto mais adorado por qualquer preguiçoso que se preze.




- Wet Leg - Wet Leg
- Black Country, New Road - Ants From Up There
- Angel Olsen - Big Time
- Spiritualized - Everything Was Beautiful
- The Smile - A Light for Attracting Attention
- Beach House - Once Twice Melody
- Oumou Sangaré - Timbuktu
- Weyes Blood - And in the Darkness, Hearts Aglow
- Yeah Yeah Yeahs - Cool It Down
- Vieux Farka Touré & Khruangbin - Ali
- Arctic Monkeys - The Car
- Julia Jacklin - Pre Pleasure
- Fontaines D.C. - Skinty Fia



terça-feira, 27 de dezembro de 2022

As Melhores Séries de 2022


O ano foi rico em diversidade de estreias nas plataformas de streaming, do sci-fi à espionagem, das fraudes à fantasia. Com interpretações de luxo, argumentos de peso e histórias mirabolantes, estas são as séries que mais gostei de ver em 2022.



- Black Bird – Protagonizada por Taron Egerton e um assombroso Paul Walter Hauser, esta minissérie conta a história real de James Keene, carismático criminoso recrutado pelo FBI para arrancar uma confissão a Larry Hall, homem obcecado pela guerra civil norte-americana que se revelou um dos assassinos em série mais mortíferos da história dos Estados Unidos. Um dos últimos papéis do malogrado Ray Liotta.



- The Dropout – Uma história real (e inacreditável) sobre ambição e fama, e o que pode daí correr mal, “The Dropout: A História de uma Fraude” conta a história de Elizabeth Holmes (a espetacular Amanda Seyfried), fundadora da Theranos. Na tentativa de revolucionar a indústria da saúde, Elizabeth deixa a faculdade (daí o título da série) e inicia uma empresa de tecnologia que tem por objetivo criar uma máquina que, através de uma única gota de sangue, conseguisse efetuar mais de 200 análises. A banda sonora é brilhante e pode ser ouvida AQUI.

- The Bear – O título desta minissérie é a alcunha dada a Carmen Berzatto, um chef Michelin que se vê na posição de gerir a loja de sandes do irmão, depois de este falecer. É uma série caótica mas viciante, decorre numa atmosfera eletrizante, ao som de “New Noise” dos Refused, tem um elenco brilhante e capta o caos frenético que se apodera da cozinha de um restaurante durante o serviço. Os 8 (curtos) episódios devem ser degustados de enfiada…

- Pachinko – Baseada no bestseller de Min Jin Lee e adaptada por um filho de imigrantes coreanos, em “Pachinko” (uma máquina de flippers à japonesa, que aqui funciona como metáfora para a vida, ela própria uma espécie de montanha-russa diária), o espetador perde-se na belíssima fotografia deste retrato emocional e expressivo da história de todos os coreanos que foram afetados pela colonização japonesa da Coreia no séc. XX.

- Severance – Nesta espécie de comédia bizarra, tenta-se responder essencialmente a uma questão (que depois se desmultiplica): e se conseguíssemos separar a nossa vida pessoal da profissional através de consciências distintas? Independentemente dos motivos, se a tecnologia permitir separar o nosso “eu” pessoal do “eu” do trabalho, será que o fazíamos? Será que conseguíamos simplesmente esquecer oito horas do nosso dia? E, a ser possível, seria sequer ético? Onde é que encaixa aqui o nosso livre-arbítrio?

- The White Lotus (Season 2) – Depois de uma temporada inagural de sucesso, a segunda temporada repete a base satírica mas mudam os ingredientes. A exceção é Jennifer Coolidge, que volta a dar vida a Tanya McQuoid. Neste novo “White Lotus”, as personagens desembarcam na Sicília, num ambiente distópico que sufoca as suas relações interpessoais. Conduzido por um brilhantismo de autor, desta vez o enredo assenta na toxicidade e sexualidade. No desfecho, tudo corre bem porque tudo corre mal.

Wednesday – Série com gostinho especial pelo macabro e sobrenatural, spin-off da “The Addams Family”, realizada por Tim Burton e por isso ideal para os fãs da estética sombria. Jenny Ortega interpreta a protagonista da história, Wednesday, alérgica a cor e de olhar intimidante, quase desconcertante, que é expulsa da escola e enviada para onde os pais estudaram e se apaixonaram. É lá que aprende a lidar com as suas visões e é educada para ser independente e corajosa mas acaba por ser obrigada a investigar um crime e ser confrontada com algo que abomina: a amizade e o amor.


Momento impressionate da temporada: a dança de Wednesday ao som de “Goo Goo Muck”, dos Cramps, no baile do liceu. Aliás, toda a banda sonora é simplesmente arrepiante. Wednesday é um ás no violoncello e toca, por exemplo, “Winter” de Vivaldi, e uma versão da “Paint It Black”, dos Rolling Stones. 

Bad Sisters – É uma comédia negra sobre as irmãs Garvey. Desde muito cedo, as cinco irmãs tornaram-se inseparáveis devido à morte prematura dos pais. No entanto, quando uma deles, Grace, é vítima de violência doméstica pelo marido, as irmãs decidem resolver o problema com as próprias mãos, levando a consequências desastrosas.


 

- Inventing Anna – Aqui retrata-se a história verídica de Anna Sorokin (papel desempenhado na perfeição por Julia Garner), uma cidadã russa que, entre 2013 e 2017, se fez passar por uma rica herdeira nos E.U.A., enganando e vigarizando pessoas, bancos, hotéis e outras instituições, até ser finalmente presa (mas libertada no dia 5 de outubro de 2022, precisamente na semana em que vi esta minissérie). 

- The Old Man – Um ex-agente reformado da CIA, Dan Chase (Jeff Bridges) a tentar ter uma vida tranquila até que um dia sofre uma tentativa de homicídio e percebe que está a ser caçado. Assim é obrigado a procurar um esconderijo para se proteger daqueles que o querem matar e encontra-o na casa de Zoe McDonald (Amy Brenneman), uma mulher com um passado misterioso e juntos procuram à verdade sobre a caça a Chase.



- This Is Going to Hurt – comédia dramática que acompanha um grupo de doutores recém-formados num hospital londrino na área da obstetrícia e ginecologia. Esta comédia dramática proporciona um olhar divertido e honesto sobre como é trabalhar com essas especialidades da medicina e explora os efeitos emocionais que trabalhar na área da saúde causa nos seus funcionários. Crítica social e humor. É uma minissérie profundamente humana e imperdível.

- MO – É um divertido e comovente retrato da vida de um refugiado palestino nos EUA. Série criada por Mo Amer e Ramy Youssef (de outra excelente série, “Ramy”) e por isso autobiográfica: acompanha Mo e a sua família, refugiados do Iraque durante a Guerra do Golfo, no início dos anos 90, em busca da obtenção da cidadania americana.

Hacks (Season 2) – Série hilariante sobre uma comediante lendária de Las Vegas, pioneira mas ultrapassada, Deborah Vance (Jean Smart). A história explora a relação de mentoria que Deborah estabelece com Ava Daniels (Hannah Einbinder), uma jovem escritora de comédia. Nesta segunda temporada, Deborah, no crepúsculo da sua carreira, decide retornar às suas raízes e fazer espetáculos itinerantes pelos E.U.A.

Heartstopper – A novela gráfica passa para o pequeno ecrã, a história de amor de Charlie Spring (Joe Locke) e Nick Nelson (Kit Connor), onde os dois adolescentes tentam compreender o sentimento que os une enquanto um lida com o bullying de que é alvo e o outro com incertezas quanto à sua orientação sexual. “Heartstopper” mostra que nem sempre o lado mais negro vinga nas vidas de uma imensa, e diversa, minoria, que continua estigmatizada e perseguida. A participação especial de Olivia Colman é a cereja no topo do bolo.



- Shining GirlsThriller original que combina de forma inteligente elementos sobrenaturais, terror, serial killer, muito suspense e ficção científica. Conta com um elenco encabeçado pela incomparável Elizabeth Moss, Wagner Moura e Jamie Bell. O última episódio termina com a voz de Angel Olsen numa versão de "One Too Many Mornings", original de Bob Dylan.

Menções honrosas para a minissérie The English (protagonizada por Emily Blunt), para a continuação de The Crown (Season 5), Reservation Dogs (Season 3) e Abbott Elementary (Season 2) e para o final da excelente Better Call Daul (Season 6), proveniente do universo Breaking Bad. No mundo da fantasia, além da já mencionada Wednesday é impossível não destacar as majestosas House of the Dragon e The Lord of the Rings: The Rings of Power.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

As Minhas Melhores Leituras de 2022


1. Chimamanda Ngozi Adichie – Meio Sol Amarelo
2. Bernardine Evaristo – Rapariga Mulher Outra
3. Gerrit Komrij – Um Almoço De Negócios Em Sintra
4. Salman Rushdie – Quichotte
5. Viet Tranh Nguyen – O Simpatizante
6. Juan Gabriel Vásquez – O Barulho Das Coisas Ao Cair
7. Margaret Atwood – Grace
8. António Mega Ferreira – Desamigados Ou Como Cancelar Amizades Sem Carregar No Botão
9. Michel Houellebecq – Serotonina
10. Marieke Lucas Rijneveld – O Desassossego da Noite
11. Irène Némirovski – Suite Francesa
12. Tennessee Williams – A Noite Da Iguana E Outras Histórias
 


Os Melhores Filmes de 2022


O cinema, nos melhores e piores momentos, é um modo de viajarmos sem sair do lugar e descobrirmos outras histórias e realidades possíveis. As minhas 10 melhores viagens em 2022 foram:

1. The Fabelmans, de Steven Spielberg - história semiautobiográfica com a qual Spielberg nos convida a redescobrir a arte e a magia do cinema. Tem como ponto de partida a história da sua juventude: um menino judeu que fica obcecado pelo cinema a partir do momento em que os pais, imigrantes judeus russos nos E.U.A., o levam a ver um filme de Cecil B. DeMille, “The Greatest Show on Earth”, no ano de 1952. Os pais do miúdo, Michelle Williams e Paul Dano, estão sublimes e há David Lynch a fazer de John Ford… 




2. Tár, de Todd Field - filme sobre a fictícia Lydia Tár (mais uma excelente interpretação de Cate Blanchett), uma aclamada compositora que se torna a primeira maestrina feminina de uma orquestra alemã. Acompanha-se a sua vida quotidiana em Berlim, as relações abusivas, a gravação da sua última sinfonia e a sua decadência devido ao seu histórico de comportamentos controladores, abusivos e narcisistas. Excelente!




3. Onoda, 10 000 Nuits Dans La Jungle (Onoda - 10 000 Noites Na Selva), de Arthur Harari - história de um militar japonês da II Guerra Mundial, treinado por um programa secreto dos comandos do exército nipónico e enviado para as Filipinas, para uma ilha montanhosa do arquipélago de Lubang, escassamente povoada por camponeses. Durante quase três décadas manteve-se escondido, ignorando o fim do conflito. O filme levanta muitas questões ainda hoje difíceis de abordar no Japão: a guerra, a derrota, o patriotismo e o fim do Império.


4. Guillermo del Toro’s Pinocchio - o icónico cineasta Guillermo del Toro dá-nos a sua própria perspetiva da intemporal narrativa “Pinóquio” (criada por Carlo Collodi) com uma animação em stop-motion. A ação decorre na Itália fascista de Mussolini, contém algumas liberdades criativas e rumos intrigantes. Adorei!


5. Good Luck to You, Leo Grande (Boa Sorte, Leo Grande), de Sophie Hyde - filme com a brilhante Emma Thompson já AQUI mencionado.


6. All Quiet on the Western Front (A Oeste Nada de Novo), de Edward Berger - baseado no livro icónico de Erich Maria Remarque, publicado em 1929 e já adaptado ao cinema em 1930 e 1970. O filme foca-se num jovem soldado alemão durante a Primeira Guerra Mundial. É uma história sobre os horrores na linha da frente.




7. Argentina, 1985, de Santiago Mitre - filme político onde aspetos públicos e privados dos seus personagens alternam-se e complementam-se numa abordagem bastante ampla de dois grandes temas de uma enorme atualidade: os direitos humanos e a justiça. Inspira-se na história real de Julio Strassera, Luis Moreno Ocampo e a sua jovem equipa jurídica que se atreveram a acusar, contra todos os ventos e marés, a contrarelógio e debaixo de constantes ameaças, a sangrenta ditadura militar argentina, entre 1976 e 1983.


8. Elvis, de Baz Luhrmann – história da carreira de Elvis Presley (Austin Butler) em pouco mais de duas horas e meia. Filme com boas interpretações, que nos dá uma boa panorâmica biográfica da vida de Elvis, proporciona bons momentos musicais e mostra-nos o lado sórdido da sua carreira, bem patente na exploração do seu agente que poucos devem conhecer, o coronel Tom Parker (Tom Hanks).




9. Triangle of Sadness (Triângulo da Tristeza), de Ruben Östlund - sátira ao capitalismo e aos jogos de poder que resulta num filme de chorar a rir do princípio ao fim e que por isso se revela uma sólida chamada de atenção ao capitalismo crescente e à sociedade do consumo.


10. An Cailín Ciúin (The Quiet Girl), de Colm Bairéad - história absurdamente triste passada na Irlanda em 1981. Cáit, de nove anos, a menina do título do filme, contraria as adversidades de uma vida pobre num meio rural ao ser uma observadora sensível da beleza das pequenas coisas ao seu redor. Quando é “despachada” pela sua família sobrecarregada, muitas vezes emocionalmente fria, para um casal mais velho e sem filhos, experimenta um profundo afeto, talvez pela primeira vez…

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Leituras do Mês

 



- António Mega FerreiraDesamigados Ou Como Cancelar Amizades Sem Carregar No Botão
- Gerrit KomrijUm Almoço De Negócios Em Sintra
- Yukio MishimaVida À Venda
- Julian BarnesO Ruído do Tempo

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Cinema do Mundo

Felizmente, e apesar da hegemonia de Hollywood, a sétima arte existe e floresce em quase todo o mundo, desde as mais empobrecidas nações do terceiro mundo até às mais poderosas potências económicas:

 
- L'Incroyable Histoire Du Facteur Cheval (A Incrível História do Carteiro Cheval), de Nils Tavernier – França (2018)

Esta longa-metragem é dedicada à vida real do carteiro francês Ferdinand Cheval (1836-1924), interpretado genialmente por Jacques Gamblin. Um carteiro solitário que encontra a mulher da sua vida, Philomène (a encantadora Laetitia Casta) e dessa união nasce Alice, que Ferdinand ama mais do que tudo e por ela lança-se numa tarefa de loucos: construir-lhe com as suas próprias mãos um incrível palácio. Não se deixando abater nunca pelos azares da vida, este homem banal não se deixará afetar e consagrará 33 anos da sua vida a esculpir esta obra extraordinária: “O Palácio Ideal”, em Châteauneuf-de-Galaure, na região de Drôme. Inteiramente construído de pedras que encontrou perta da sua casa, o gigantesco palácio é decorado com esculturas de animais, fadas e seres mitológicos. Um monumento que pode ser visitado em Hauterives, França.




- Verdens Verste Menneske (A Pior Pessoa do Mundo), de Joachim Trier – Noruega (2021)

Neste filme, Julie (Renate Reinsve) é uma norueguesa que está a chegar à casa dos 30 anos mas que tem dúvidas em assentar, como o namorado deseja. O encontro com outro homem, por quem se apaixona, vem ainda complicar os problemas existenciais de uma jovem mulher que se sente “a pior pessoa do mundo”, uma personagem secundária na sua própria vida que nunca soube muito bem o que quer da vida: quando a vemos pela primeira vez, somos informados de que é uma brilhante aluna de medicina; logo depois, muda para psicologia para, em seguida, saltar para fotografia, acabando a trabalhar numa livraria; vai tendo uns romances, incluindo com professores, até conhecer Aksel, autor de banda desenhada, com quem passa alguns anos até se apaixonar por Eivind, e onde a sua ideia sobre maternidade oscila entre a rejeição e o desejo.

Estruturado em 12 capítulos, como um livro, e com momentos mágicos de criação cinematográfica – como quando tudo para à volta de Julie e só ela se move – “A Pior Pessoa do Mundo” é uma forma divertida, simples e honesta de nos encontrarmos com nós próprios e recorda-nos que o cinema é ainda uma arte de contar histórias.




- È Stata La Mano Di Dio (A Mão de Deus), de Paolo Sorrentino – Itália (2021)

Filme com uma belíssima fotografia e profundamente autobiográfico pois Sorrentino evoca a sua juventude na Nápoles da década de 80, quando Diego Maradona foi jogar para o clube local, a sua vasta família, a tragédia que o deixou e aos irmãos órfãos e a sua decisão de ser cineasta. É o jovem Fabietto que representa a versão ficcionada do realizador nesta jornada existencialista. Além de Fellini, sempre citado, é inevitável recordar Ettore Scola e o seu filme "La Famiglia" (1987) no qual, mais do que contar a história de uma família, assistimos à declaração de amor incondicional e tolerância que devem ser (teoricamente) as principais características de uma família. Belíssimo filme!




- A Vida Invisível (de Eurídice Gusmão), de Karim Aïnouz (Brasil, 2021) 

É um melodrama tropical muito bem interpretado e dirigido. Passa-se na década de 50 do século passado e é um retrato de vidas reprimidas: histórias paralelas de duas jovens irmãs inseparáveis, Eurídice que sonha em ser uma pianista de renome e Guida que procura um amor verdadeiro, descendentes de uma família portuguesa bastante conservadora, que em virtude de uma determinada ocorrência, vêem-se impossibilitadas de comunicar entre si. Ambas lamentam a falta uma da outra, pelo que jamais desistirão de voltar a reencontrar-se. Todavia, e apesar de viverem geograficamente próximas (sem o saberem), tal evento tarda em ocorrer e a tristeza corrói-as lentamente, sendo as cartas que escrevem (e que nunca chegam ao seu destinatário) o único meio que encontraram para (tentar) amenizar a dor/saudade perpétua. Convém ter lenços por perto para assistir até ao fim…




- Persian Lessons (As Lições de Persa), de Vadim Perelman – Alemanha, Bielorrússia, Rússia (2020)

Um filme baseado em factos reais sobre a Segunda Guerra Mundial onde Gilles um jovem judeu belga, é preso pela SS juntamente com outros judeus e enviado para um campo de concentração na Alemanha. Para escapar à execução, ele jura aos guardas que não é judeu, é persa. A mentira salva-o mas Gilles acaba por receber uma missão aparentemente impossível: ensinar Farsi a Koch, o oficial encarregue da cozinha do campo, que sonha abrir um restaurante no Irão depois da guerra terminar. Gilles tem agora de inventar uma língua que não conhece, palavra a palavra. Conforme a relação pouco habitual entre os dois floresce, começa um clima de suspeita e de medo pela descoberta da trama.

Apesar de poucos momentos mais contundentes em termos de violência, não somos poupados dos horrores da guerra e podemos senti-los ao longo de todo o filme, apenas pela observação dos acontecimentos dentro do campo de concentração.

O final do filme é algo que merece especial menção, pois, inesperado, é simplesmente emocionante e espetacular, dando inclusive um maior significado ao filme e resgatando qualquer deslize de roteiro. A derradeira cena (na verdade a penúltima) é uma pérola surpreendente e inesquecível, que coroa de profundidade atemporal esta bela obra.

domingo, 6 de novembro de 2022

RIP Mimi Parker (Low)


Low, a banda formada em 1993, que encena emoções à flor da pele num quase silêncio: melodias simples, harmonias vocais cheias e a bateria de Mimi Parker…

Inscritos numa tendência do rock alternativo que se convencionou chamar ‘slowcore’, assinaram discos importantes nos anos 90 como “I Could Live In Hope” e “Long Division”.

Em 2005, lançariam um dos discos mais marcantes da cena indie norte-americana da primeira década do século XXI, “The Great Destroyer”. Nos anos mais recentes, estenderam a passadeira do rock a territórios mais experimentais com “Double Negative” (2018) e “HEY WHAT”, lançado no ano passado.


sábado, 5 de novembro de 2022

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Dia Mundial do Sorriso (Best Stand-Up Comedy Specials)


Dizem que sorrir faz bem ao corpo e também à alma e que é o melhor remédio. O sorriso é tão importante que até existe um dia só para ele: na primeira sexta-feira de outubro, é celebrado mundialmente o Dia do Sorriso. E os espetáculos especiais de stand-up que mais me fizeram sorrir no ultimo ano foram:




- Bo Burnham: Inside (2021)

- Jerrod Carmichael: Rothaniel (2022)

- Natalie Palamides: Nate: A One Man Show (2020)

- Nate Bargatze: The Tennessee Kid (2019)

- Mike Birbiglia: The New One (2019)

- Taylor Tomlinson: Quarter-Life Crisis (2020)

- Sheng Wang: Sweet and Juicy (2022)

- David A. Arnold: It Ain’t For the Weak (2022)

- Hannah Gadsby: Douglas (2020)

- Bill Burr: Paper Tiger (2019)

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Sons de Outono


1. Puma BlueHounds 
2. Alex Kapranos & Clara Luciani Summer Wine 
3. Arcade FireAs It Was 
4. Lo MoonLoveless 
5. Måneskin If I Can Dream 
6. The Saint JohnsYour Head And Your Heart 
7. 070 ShakeCocoon 
8. Gorillaz (Ft. Thundercat) Cracker Island 
9. CannonsDancing In The Dark 
10. Marcus Mumford Cannibal 
11. Aurora AksnesScarborough Fair 
12. Black Country, New RoadSunglasses 
13. Angel Olsen & Hand HabitsWalls 
14. The National (Ft. Bon Iver)Weird Goodbyes 
15. La FemmeParadigme 
16. Suede She Still Leads Me On 
17. Julia JacklinLove, Try Not To Let Go 
18. Belle And SebastianA Bit Of Previous 
19. Melody Gardot (Ft. António Zambujo)C’Est Magnifique 
20. Fiona AppleAcross The Universe


segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Leituras do Mês


- Yoko OgawaA Magia Dos Números 
- Tennessee WilliamsA Noite Da Iguana E Outras Histórias 
- Will SchwalbeOs Livros Do Final Da Tua Vida 
- Jennifer EganA Visita Do Brutamontes

sábado, 1 de outubro de 2022

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Roger Federer - O Ídolo Que Mudou O Desporto


Roger Federer, um dos desportistas mais icónicos dos primeiros 20 anos deste século e seguramente o que mais extravasou a esfera da história do ténis, pendurou as raquetes na Laver Cup no passado fim de semana.

O lendário tenista suíço despede-se dos courts com 310 semanas no topo do ranking, 20 títulos de Grand Slam, duas medalhas olímpicas, 103 títulos de singulares e 1251 vitórias em encontros individuais. E agora? O que será do ténis sem ele?


sábado, 24 de setembro de 2022

Good Luck To You, Leo Grande




"Boa Sorte, Leo Grande", filme da realizadora australiana Sophie Hyde e da argumentista e atriz britânica Katy Brand, oferece-nos um olhar íntimo sobre a sexualidade. Emma Thompson desempenha o papel principal (o que só por si já seria suficiente para ver o filme), de uma professora de Religião e Moral reformada, viúva e insatisfeita, que não tendo tido outro parceiro sexual na sua vida para além do marido (conservador e pouco preocupado com o prazer feminino), decide contratar um trabalhador do sexo que dá pelo nome de Leo Grande (Daryl McCormack). Leo é uma pessoa agradável e segura de si, e embora nem sempre diga a verdade, Nancy descobre que gosta dele e consegue efetivamente estabelecer uma relação íntima. O jovem que lhe entra no quarto de hotel acaba por ir contra os seus mais profundos preconceitos e a sua história de vida fá-la repensar a sua própria relação com os filhos.

Com diálogos magistrais e uma forte componente dramática, introspectiva e até humorística, "Boa Sorte, Leo Grande" é um filme que fala sobre desconstrução. Sobre como é libertador desfazermos os rígidos condicionamentos culturais, morais e patriarcais que nos apertam e reduzem. Como pode ser transformador olharmos ao espelho, despidos dos filtros de sempre, e olhar para o outro com as lentes limpas (de medo, de vergonha e de culpa). Como pode ser revolucionário que uma mulher madura se sinta no direito de sentir desejo, prazer e vontade de o dizer em voz alta. E como é surpreendente isso ser tão novo no cinema.




Esta comédia intimista dramática de exceção entra para a minha lista de filmes preferidos que decorrem num único cenário (neste caso um quarto de hotel e apenas dois atores) e que nem por isso deixam de ser excelentes. Os outros filmes que constam dessa lista e o respetivo cenário único são:

- Rear Window – Janela Indiscreta (1954) – apartamento;

- Carnage - O Deus da Carnificina (2011) – sala de jantar;

- Amour – Amor (2012) – apartamento;

- Locke (2013) – carro;

- Phone Booth (2002) – cabine telefónica;

- 12 Angry Men – Doze Homens em Fúria (1957) – sala de um tribunal;

- Den skyldige (2018) – central de chamadas de emergência;

- Buried – Enterrado (2010) – interior de um caixão;

- My Dinner with Andre (1981) – restaurante.

- The Desperate Hour (2021) – sessão de jogging.